Penso que a música tem de ser tomada…

Penso que a música tem de ser tomada como um verbo – uma ação, um movimento em direção a uma continua mudança, uma busca contínua, por vezes inquestionavelmente tocando um enorme paradigma e tocando uma campainha que põe todos os nossos diapasões interiores a tocar.

Quando isso acontece, algo se ordena no ouvinte, uma conexão com outra energia que, pelo menos por um momento, nos torna completos? “A música ajuda a nos manter em contacto com todo o mundo vibratório”, escreve Menuhin em The Music of Man, “e assim nos centra no nosso próprio ser”.

Assim, o mais próximo que chegamos de uma definição não é qualquer definição, mas a vaga sensação de que a música tem a ver com uma relação interior. A grande música nos põe em ordem; faz com que as coisas tenham sentido. Ao ouvir, sentimos uma espécie de alívio: ah, sim! é isso! Reconhecemos um outro mundo, e estamos aqui contidos nele, e sabemos o nosso lugar entre os dois. É a perda desta relação que torna a nossa vida sem sentido, pois se não há nenhum nível superior ao nosso, nenhuma vontade ou consciência para além da humana, nenhum “céu” acima de nós, então também não há nenhuma terra abaixo de nós.

É precisamente aqui que nos encontramos (ou nos perdemos) hoje, tendo recusado tanto a filiação como a direção; tendo renunciado nossa dependência vital do sagrado, perdemos, com certeza, todo o sentido de responsabilidade para com a terra e as formas de vida que dependem de nós. Mas o que as leis da música e da vibração revelam é precisamente essa estrutura na qual podemos encontrar as nossas raízes e a nossa razão de ser, de forma mais convincente porque a visão se reflete em todos os outros aspectos da existência como numa série infinita de espelhos. O som vibrante que é a força da vida é também movimento, calor e cor.
A lei da oitava ecoa através do espectro da luz e através dos ciclos de cada vida humana.
Se a música, como nos foi dito, é um som organizado, é de fato o músico, o ser humano comum, que a organiza?
Ou será que ele descobre, se tiver muita sorte e muita disciplina, as leis a qual ela milagrosamente corresponde?

Bibliografia:

D.M. Dooling
Revista Parábola – Volume V – Número 2

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