Sra. D: Que valor tem a prece? Quando me sinto fraca e impotente e que não consigo fazer aquilo que devo, não posso me impedir de rezar. Mas é uma prece automática, indigna; no entanto recorro a ela frequentemente, pois encontro ajuda nela.
Sr. G: É uma maneira de se tranqüilizar. O que quer perguntar?
Sra. D: Mesmo assim tenho a impressão de que é uma coisa indigna, porque nem mesmo é uma prece; é um grito, um apelo a uma ajuda. Será que posso continuar?
Sr. G: Não se deve empregar a prece para isso. Todo mundo age assim. Reza-se e se está perdoado. Tudo vai bem, já se é “candidato ao paraíso”.
Sra. D: Eu nem mesmo vou até o fim. Eu não procuro que noção tenho de Deus. Não sei a quem este apelo é dirigido.
Sr. G: Pode ser que você reze automaticamente, que se tranquilize automaticamente. Nenhum dos dois tem valor para o futuro. É até um crime para seu futuro.
Sua prece não deve ser uma prece habitual. É preciso que você reze, reze verdadeiramente, como reza um cristão. Deve rezar com toda sua presença e com seus três centros concentrados na mesma coisa. Deve rezar com sua cabeça, seu sentimento, sua sensação. Tome isto como tarefa. Não reze para se tranquilizar. Esta prece não a tranquilizará, ao contrário, ela a deixará cansada. Mas depois, chegará ao que lhe é necessário.
O cristão reza com toda sua presença. Em geral, o homem reza apenas com o pensamento. Talvez exista uma lei bem maior. Nunca lhe disseram como rezar, e ele não pensa nunca que os estados do sentimento e da presença devem estar em conformidade com o movimento da prece. Se até agora você tinha o hábito de rezar automaticamente, eu a aconselho a rezar como quiser, mas, sobretudo, não como fazia antes.
Referência bibliográfica
Paris, Rue des Colonels Renard
Setembro, 1943