Um dia de 1945, o Sr Gurdjieff viajando com alguns companheiros de trabalho, parou próximo do local onde eu morava. Mme de Salzmann e um grupo de alunos estavam junto. Eu fazia parte desse grupo.
Aconteceu, por uma feliz coincidência, que após uma refeição juntos, Sr G. e eu caminhamos sozinhos, lado a lado, numa rua da cidade. Nós percorremos uma pequena distância um ao lado do outro, e depois voltamos ao lugar de partida. Entretanto, alguns minutos desse tempo tão curto foram certamente os mais importantes que me foram dado viver desde a minha vinda ao mundo. Ao longo dessa caminhada, rigorosamente silenciosa, o Sr. G. não lançou nenhum olhar – nem mesmo, sou tentada a dizer, a metade ou um quarto de um olhar – na minha direção, e não esboçou nenhum gesto suscetível de atrair a minha atenção.
Ele se mantinha surpreendentemente ereto. Eu sentia emanar de seus passos muito regulares uma determinação tranquila e uma dignidade de rei. Suas dimensões se transformaram, sua estatura se tornou imensa. E quando me dei conta que assim transfigurado ele era indiferente à minha presença ao lado dele, eu me senti desconcertada. Eu trotava, incrédula, ao lado de um muro de um rigor implacável, tentando em vão encontrar nele, a disposição calorosa a qual eu estava acostumada. Apesar disso, eu sentia obscuramente que essa “rigidez” preservava meu doloroso afastamento de um abandono total. Quando nós chegamos perto dos outros eu não recebi, nem olhar, nem gesto, nem palavra mas, dentro de mim, tinha nascido a certeza que dai em diante eu precisava aprender a andar por mim mesma, só com o apoio da presença grandiosa e implacável dessa montanha da separação e do retorno.
Referência Bibliográfica
Artigo no Dossier H – Geneviève Lief – Página 379