
Um ambiente agradável reinava durante toda a noite. As crianças, mais barulhentas que habitualmente, estavam reunidas ao redor da árvore de Natal.
A pedido do senhor Gurdjieff eles foram para sua mesa, sem tirar os olhos dos presentes. A conversa na grande mesa era frequentemente atrapalhada pelo barulho da disputa das crianças pela divisão dos presentes, cada um querendo o que o outro cobiçava.
Os pais olhavam com ternura misturada com inquietude a agitação das crianças. Como que para aumentar ainda mais a tensão, senhor Gurdjieff começa um diálogo com as crianças:
- Então, Kolka, o que você quer? O que você queria ter ganho?
- Uma bicicleta!
- E você Michka?
- Eu quero a bicicleta!
- Não, sou eu que quero a bicicleta, gritam juntas Bousska (Nathalie) e Lika.
Georgi Ivanovitch e os pais explodem em risos. - Vejam, existem muitos brinquedos, diz o senhor Gurdjieff. Mas somente uma bicicleta. Então, acertem-se para distribuírem os brinquedos de uma maneira justa.
As crianças tendo que resolver entre elas mesmas, se colocam rapidamente no maior desacordo.
A situação parecia sem saída. Então o senhor Gurdjieff diz:
“Aquele dentre vocês que desejar mais terá o brinquedo que ele quiser, mas será necessário provar a força de seu desejo. Então vamos lá: aquele que puder manter durante um quarto de hora os braços em cruz terá a bicicleta.”
As crianças se colocam em fila e levantam os braços na horizontal; o desafio esportivo as seduz, mas rapidamente, os rostos refletem uma situação interior conflituosa.
Um olha se os outros estão aguentando. Outro se pergunta se o jogo vale o sacrifício. O terceiro está atormentado por uma série de sentimentos bem compreensíveis.
…. Os menores se debatem numa luta desigual e abandonam antes. Os maiores, uns após os outros, fazem o mesmo, libertados do desejo, miraculosamente acalmados.
Os brinquedos acabam por encontrar cada um seu destinatário. Existem, certamente, decepções, mas no dia seguinte, tudo está esquecido, pois o Papai Noel, magnânimo, voltou para dar, a cada um, sua bicicleta.
Bibliografia:
Tchechovitch – Gurdjieff, un maître à vivre – Página 150